terça-feira, 10 de setembro de 2024

Em um carro qualquer


Coisas de Brasil

Ontem peguei um motorista por aplicativo, sim — esse negócio de “motorista de aplicativo” para quem tem formação em T.I é esquisito. Sempre que escuto, fico imaginando um motorista sentado em um smartphone ou PC/notebook dirigindo e pegando passageiros.
Piração a parte… 

Era um motorista que aparentava ter pouco mais de 40 anos. Gosto (às vezes) de conversar com pessoas, dei o cordial 'muito bom dia', ele respondeu e começou a puxar assunto.

Reclamando da violência… Que o Brasil está entregue aos comunistas… Que Alexandre de Morais é um “bandido”… Que foi um absurdo a fraude eleitoral que não reelegeu Bolsonaro… Que o Brasil está cada vez mais quente… 

Enquanto ouvia as queixas pensava, “esse rapaz tá precisando de psicologo”.

Esperei ele fechar a boca do “muro das lamentações” e perguntei:

— Por que você acha que estamos entregues a um governo comunista?

Aí ele começou:
Os bandidos têm direito e o cidadão correto não, que os menores fazem o que quer, que Lula é comunista e que daqui a pouco estaremos pior que a Venezuela, que comeremos nossos cães e gatos.

Dei um tempo, respirei e disse:
— Nossa, que perspectiva ruim da vida…
Continuei, como ainda voto, vou à missa, tenho liberdade de andar e comprar (consumir) o que gosto — não creio em um regime comunista, nem em nenhuma ilusão próxima.

Falei sobre a suposta fraude eleitoral, expliquei que em 2018 ajudei fazer campanha e votei no Jair Messias Bolsonaro, mas que não votei para que ele fosse reeleito.
Expliquei que nem todos temos a mesma visão quanto ao político que cremos ou admiramos.

Para encurtar o papo, até porque não levaria mais que 20 minutos para chegar no meu destino. Perguntei a ele sobre o “trabalho” de motorista. Ele disse que está desempregado desde 2021 e não conseguir voltar ao mercado de trabalho e por isso passa 8, 10 e até 12 horas do dia dirigindo para poder se sustentar, sustentar a família.

Disse para ele que a insatisfação dele, mas parece ter a ver com a frustração na vida profissional/pessoal.
Ele ficou quieto o resto da viagem e eu também. Mas a minha mente inquieta pensava:

"Meu Deus, o brasileiro abraça um trabalho que era para ser extra, descompromissado, e transforme em um subemprego escravizante. Daí faz a soma de tudo que lhe rodeia e permeia a vida — Bingo… O mundo é culpado!"

EU — Entendo que ainda que o mundo seja “culpado” por minha situação, a responsabilidade do meu revés é TOTALMENTE minha.
Essa é a minha visão de vida, minha maturidade.

Acredito que ele deveria adotar algo parecido - maturidade na dose certa - para não se colocar como vítima e sim aprender usar suas energias para reagir e reescrever a própria história, mas…


Quem sou eu no banco de trás de um “carro de aplicativo”? 
 




Até a próxima!

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